domingo, 29 de agosto de 2010

Apocalipse - O Despertar (trailer 1)

Olá a todos! Esta semana deixo-vos com o primeiro capítulo do segundo livro da saga Apocalipse, “O Despertar”. Fiquem também com o primeiro “trailer”do livro, e prepararem-se, por que o lançamento está quase aí!


Capítulo 1

 

 

“O verdadeiro herói é aquele que faz o que pode. Os outros não o fazem.”

Romain Rolland

      

O corpo do demónio alado caiu carbonizado no chão quando Ryan atingiu este com um poderoso ataque de chamas.

Ao lado do jovem, Anna usava o seu arco, disparando flechas a uma velocidade vertiginosa contra o grupo de demónios alados que voavam sobre os dois jovens.

Os demónios não paravam de se mover por entre os vários alicerces do antigo hospital. Toda a estrutura interior do edifício tinha praticamente desaparecido, deixado um enorme fosso no centro do prédio. Espalhados pelos vários andares, existiam centenas de ninhos de demónios. O local fazia lembrar uma colmeia.

A luz no interior do edifício em ruínas era escassa, e as paredes que não estavam cobertas de musgo e sinais de humidade, encontravam-se repletas de uma espécie de baba amarelada, que os demónios usavam para fazer os seus ninhos. Um cenário horripilante a que os jovens já se tinham habituado nos últimos meses.

Completamente concentrada em abater os demónios alados, Anna não se apercebeu do demónio que voava em direcção às suas costas, pronto a agarrar-lhe o pescoço. Contudo, o demónio não conseguiu atacar a jovem, pois a espada de Ryan foi mais rápida e cortou a criatura em duas.

Um grupo de homens armados com M16 e espadas entrou pelas ruínas do que tinha sido um dos antigos hospitais da cidade de Paris.

Com disparos rápidos das suas armas de fogo, o grupo de soldados de Nouvelle Paris juntou-se à batalha, e passados poucos minutos já não restava um único demónio vivo. Todos os ninhos pareciam ter sido destruídos.

– Obrigado por teres tratado daquele demónio há bocado – agradeceu Anna a Ryan. – Eu não o vi aparecer de lado nenhum.

– Não foi nada. Mas acho que o demónio ganhou dupla personalidade – comentou o jovem em tom de brincadeira, apontado para o corpo do demónio cortado ao meio.

Anna riu-se com gosto enquanto passava a mão pelos cabelos loiros.

– Senhor, já revistamos toda a área. Ao que parece, nenhum dos demónios escapou – declarou um dos soldados de Nouvelle Paris a Ryan, num inglês com sotaque francês.

– Muito bem, limpem o que resta do ninho e depois voltem para a cidade. Está quase a anoitecer e esta área é perigosa – ordenou Ryan. – Eu e a Anna vamos voltar para Nouvelle Paris.

– Sim senhor! O trabalho estará concluído antes de anoitecer.

Nisto, o soldado retirou-se, e a correr, foi-se juntar aos restantes.

Os vários soldados limpavam os restos mortais dos demónios do edifício em ruínas, enquanto procuravam por algum ninho que tivesse escapado.

– Este ninho deu mais trabalho que o habitual. Achas que eles já estavam à nossa espera? – perguntou Anna, enquanto observava o local mais uma vez com os seus olhos azuis.

– Há já alguns meses que andamos a limpar todos os ninhos de demónios das ruínas da cidade. Parece-me lógico que eles saibam, que mais cedo ou mais tarde, havia de chegar a vez deles – explicou Ryan.

– Faz sentido… Mas digo-te, já ando farta de limpar ninhos de demónios – desabafou Anna.

– Ninguém disse que ser um Escolhido era fácil – comentou o jovem.

– Sabes quando é que o Roger e o Enlil voltam?

– Não. Mas não devem demorar. Já partiram há quase uma semana – recordou Ryan, enquanto guardava a sua espada na bainha.

Passara quase um ano desde que Lúcifer fora derrotado, e Roger só recentemente é que decidira que estava na hora de se mudar para Nouvelle Paris definitivamente. Como tal, tinha partido com Enlil para Stonehenge buscar os seus pertences.

Durante todo aquele tempo que passou desde a derrota de Lúcifer, os Escolhidos tinham dado inicio a um movimento de exterminação dos demónios que tinham ficado aprisionados no mundo. Nos primeiros meses tinha-se mostrado uma tarefa muito simples. Os vários grupos de demónios encontravam-se desorganizados e com medo, pois tinham perdido os seus líderes. Contudo, nos últimos meses começavam já a apresentar os primeiros sinais de organização, embora muito fracos.

– E o Jean-Pierre? Já deu notícias? – perguntou Anna.

– No último contacto, eles tinham acabado de chegar à Holanda. Devem estar neste momento a caminho de Amesterdão – respondeu Ryan com algum desinteresse, enquanto percorria o edifício com os seus olhos de uma tonalidade castanha que fazia lembrar terra molhada.

Nos últimos meses, a notícia do aparecimento dos Escolhidos espalhara-se por toda a Europa, devolvendo a esperança às pessoas.

Aproveitando este facto, Maurice Bruel iniciou contactos com os vários líderes da Europa. O seu plano era criar uma aliança entre os vários países, para estes se entre ajudarem contra os demónios.

Ryan, agora com dezanove anos, não via a formação de uma aliança com bons olhos, ou pelo menos, uma aliança liderada por Maurice Bruel. Há muito que o jovem se apercebera que a aliança era mais uma jogada política de Maurice Bruel para ganhar mais poder, e o pai de Jean-Pierre era um político nato.

Jean-Pierre e o pai tinham partido já há algum tempo. Dirigiam-se para Amesterdão, onde se iriam encontrar com a líder da Holanda para discutirem a formação da aliança.

– Eu não percebo por que motivo o Jean-Pierre foi para a Holanda em vez de mim. Afinal, sou eu que sou natural de lá, não ele – protestou Anna que ainda não se tinha conformado com a ideia de ficar em Nouvelle Paris.

– Sim, mas estás a esquecer-te de uma coisa importante. Tu não és filha de Maurice Bruel, e além disso, tu sabes que o Jean-Pierre não faz frente ao pai. Se fosses tu, o mais provável é que acabasses por fazer frente a Maurice Bruel, e ele não quer isso – explicou Ryan, enquanto desviava os cabelos castanhos do rosto por causa de uma leve brisa vinda do exterior do edifício que os fez esvoaçar.

Lentamente, os dois jovens puseram-se a caminho de Nouvelle Paris, ambos sabiam o que os esperava: um interminável relatório sobre a destruição de mais um ninho de demónios.

 

***

 

Passado quase uma hora, os dois jovens chegavam finalmente à cidade que agora lhes servia de casa.

Caminhando através das movimentadas ruas da enorme cidade bunker, Ryan e Anna eram constantemente abordados pelos habitantes que ali circulavam. Depois da derrota de Lúcifer, os Escolhidos tinham-se tornado um símbolo para a cidade, e era agora quase impossível para eles andar nas ruas sem uma multidão de fãs atrás.

As ruas da cidade eram extremamente movimentadas. Por todo o lado, era possível ver pessoas que se moviam por entre os edifícios de betão, preocupadas apenas com o seu dia-a-dia.

Apesar de toda a cidade ter sido construída debaixo do solo, as suas ruas eram bastante largas, e os edifícios tinham um algo de gótico que fazia lembrar a idade média.

Avançando lentamente através da multidão, os dois jovens tentaram passar desapercebidos, mas não tardou para que as pessoas se apercebessem e começassem a aclamar o nome dos dois jovens com entusiasmo. Ryan e Anna dirigiram-se para o palácio de Maurice Bruel, onde os Escolhidos agora habitavam.

O palácio era provavelmente o edifício mais imponente de toda a cidade. Era extremamente bem protegido, fazendo lembrar um forte. Todas as paredes estavam trabalhadas num estilo que fazia lembrar as grandes catedrais da época medieval, envergando estátuas de gárgulas, como que a proteger as portas e varandas do palácio. Tal como acontecia com quase todos os edifícios da cidade, o palácio era feito de uma pedra acinzentada com tonalidade escura.

Ao aproximarem-se das duas enormes portas blindadas que protegiam a fortaleza do líder da cidade, os dois guardas que as vigiavam abriram-nas de imediato.

– Sejam bem-vindos – disse um dos guardas.

– Obrigado – agradeceu Anna.

Após entrarem no edifício, as gigantescas e pesadas portas fecharam-se de imediato.

As portas davam acesso a um largo corredor, todo ele repleto de importantes obras de arte que estavam expostas nas paredes de tonalidade vermelha escura.

– Só agora? – perguntou Niki que se aproximava dos dois jovens Escolhidos.

– Este ninho deu um pouco mais de trabalho que o habitual – respondeu Ryan. – Como é que soubeste que estávamos a chegar?!

– Sabes maninho, quando se tem uma cidade a aclamar o vosso nome, é um pouco difícil não saber onde vocês estão – declarou Niki em tom trocista.

Niki era a irmã mais nova de Ryan, e tal como o irmão, possuía os mesmos olhos e cabelos castanhos.

– Eu confesso que ao princípio até achei piada, mas já estou um pouco farta disto – desabafou Anna.

– É o preço da fama – comentou Ryan.

– É verdade. Bem, acho que vou tomar um duche e descansar um pouco antes de ir escrever aquele maldito relatório – disse Anna.

– Desculpa amiga, mas vais ter de fazer isso mais tarde. O senhor Jacques Vernet quer ver-vos agora mesmo – explicou Niki, acrescentando alguma ironia na forma como dissera o nome do substituto temporário de Maurice Bruel.

– O que é que esse pau mandado arrogante quer agora?! – protestou Ryan.

– Bem, parece que depois do teu último relatório, ele quer que vocês passem a fazer os relatórios directamente a ele e oralmente – declarou Niki.

– O que é que tinha o teu último relatório? – perguntou Anna desconfiada.

– Apenas o seguinte que vou passar a citar – disse Niki. – “Entramos no ninho, destruímos o ninho, fomos embora.”

Anna ficou boquiaberta ao ouvir Niki. Jacques Vernet nunca gostara de Roger nem dos Escolhidos, e a sua forma de demonstrar isso, era através dos penosos relatórios que obrigava os jovens a escrever. Desde o primeiro dia que Jacques Vernet assumira a posição de Maurice Bruel, quando este partira para a Holanda, que Ryan praticamente lhe tinha declarado guerra, o que só tinha piorado a situação.

– Chamas a isso um relatório?! – berrou Anna furiosa. – Tu sabes perfeitamente que aquele idiota aproveita todas as situações para nos fazer a vida negra, e tu ainda o vais a ajudar ao fazeres esse relatório?!

Hey, tem calma. Eu só estava a evitar palha desnecessária – explicou-se Ryan em tom trocista.

– Quem me dera que às vezes não fosse tão infantil e levasses as coisas a sério! – protestou Anna, enquanto se afastava furiosa para o salão onde Jacques Vernet se encontrava.

– O que é que lhe deu?! – pergunrou Ryan confuso.

– Eu nem te vou responder a isso – declarou Niki com desprezo. – Vê mas é se vais fazer um relatório em condições ao idiota do Vernet.

Nisto, Ryan ficou sozinho ao ver a irmã afastar-se rapidamente pelo corredor apinhado de obras de arte.

Definitivamente é preciso receber formação de um especialista para se lidar com as mulheres, pensou o jovem.

Começando a caminhar lentamente, Ryan tentou acalmar-se e preparar-se para enfrentar Jacques Vernet. O jovem nem sequer conseguia imaginar como é que Maurice Bruel suportava sequer ter um arrogante daqueles como um dos seus conselheiros.

Ao chegar ao salão, Ryan apercebeu-se que Anna já se encontrava no seu interior a fazer o seu relatório.

Lentamente, o jovem abriu a porta e entrou.

O grande salão não era mais do que uma enorme sala desprovida de praticamente qualquer mobília, a não ser a secretária de Maurice Bruel. Tal como o corredor, as paredes do salão estavam pintadas de vermelho escuro. Um tapete de veludo vermelho estava por baixo da secretária e da cadeira de madeira. Atrás da secretária, encontravam-se apenas duas estátuas humanas feitas em mármore branco.

– Vai dar-me alguma explicação para o seu atraso? – perguntou Vernet ao ver o jovem entrar no salão onde normalmente Maurice Bruel se encontrava.

Atrás da secretária do pai de Jean-Pierre, encontrava-se um homem de cabelo escuro e oleoso. Era um pouco baixo, tinha uma pele muito pálida e um ridículo bigode.

– Tive um contratempo – respondeu Ryan com indiferença.

– Nesse caso, sugiro que me deixe continuar a ouvir o relato da sua amiga. Interrompa apenas se tiver algo a acrescentar, embora duvide, visto que tem uma aptidão única para fazer relatórios… – declarou Vernet com frieza.

Anna continuou então o seu relatório, enquanto Ryan ignorava os olhares e comentários provocadores do político francês.

A jovem falou quase uma hora, durante a qual respondeu às perguntas de Jacques Vernet. Este repetia as mesmas questões várias vezes de forma propositada, tentando fazer com que Anna perdesse a calma e se enervasse. Contudo, não teve sucesso, pois a jovem respondia sempre com calma e seriedade.

Quando Vernet se fartou finalmente dos seus jogos psicológicos, mandou sair os dois jovens do salão, dando como encerrado o relatório.

– Como é que consegues? – perguntou Ryan a Anna enquanto se afastavam do salão.

– Consigo o quê?!

– Manter a calma quando o Vernet te está a provocar.

– Limito-me a pensar no que aconteceria se decidisse enfrentá-lo ­– explicou Anna.

– Bem pensado… – comentou Ryan.